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Chão Urbano ANO VI Nº 07 e 08 Jul e Ago 2006

01/07/2006

Integra:

ANO VI Nº 07 e 08 Jul e Ago 2006

 

Laboratório Redes de Infraestruturas e Organização Territorial - IPPUR/UFRJ  

 

      Coordenação Mauro Kleiman  

 

 

       Equipe:  Caroline Pires Cardoso, Maria Helena de Souza da Silva, Marcella Cristina PereiraDias, Marcia Oliveira Kauffmann, Edinilson Pereira Costa , Simone Cavalcanti do Amaral e Viviani de Moraes Freitas

 

 

 

A formação de uma área “mais nobre” no interior de uma expansão “nobre” para a Barra da Tijuca.

 

 

A Barra da Tijuca aparece como área de expansão para moradia da camada de maior renda no Rio de Janeiro no bojo da consolidação do modo de vida ligada ao hábito de desfrute da praia oceânica, simultâneamente á sua configuração e tipologia urbanística e arquitetônica diferenciada. Até o final do século XIX o carioca não tinha o hábito de freqüentar, e muito menos de morar na orla marítima oceânica. Este hábito teve uma construção cultural que passou pela recomendação médica dos benefícios do ar marinho, dos cuidados com o corpo, dos esportes ao ar livre combatendo a vida sedentária; pela vida cotidiana em áreas onde se passariam as férias e fins de semana. Copacabana, depois Ipanema e Leblon serão os locais afluxo, densificação e verticalização ao longo do século XX, que consolidar-se-ão como lugares de moradia da camada de renda mais alta. Mas na tipologia da arquitetura de morar em edifícios de apartamentos, numa estrutura urbanística no tradicional modelo “xadrez” ortogonal em ruas “corredor”, e a alta densidade e verticalidade criou micro-climas de temperatura mais elevada e alto índice de ruído, e onde esta externalizado nas ruas tudo o que possibilita o complemento à vida-as compras, o lazer, os serviços. A Barra da Tijuca concebida no Plano Lúcio Costa formula uma estrutura urbanística de grandes lotes para dar conta de sua repartição pré-existente em apenas quatro grandes proprietários de suas terras, para edificação em “torres” isoladas vazadas em áreas verdes e parcelas para edificações de moradia em casas; separando-se as partes de habitação das de comércio e serviços e tendo o automóvel como seu elo funcional. Então estava tudo concebido no maior refinamento do modelo racional-funcionalista. Os incorporadores imobiliários percebendo a mudança, introduzem inovações tanto ao nível do projeto arquitetônico, mas igualmente de cunho urbanístico criando a figura da moradia articulada ao lazer e serviços no interior dos condomínios. A concepção de “mini-cidades”, fazendo a internalização de um conjunto de atividades complementares a moradia que antes estavam dela separadas na rua “corredor”, atraiu a camada de renda mais alta a instalar-se na área. A internalização do que antes estava separado será uma marca das mais importantes na busca incessante de diferenciação que esta camada social necessita frente as demais para manter-se como “nobre” numa metrópole cada vez mais complexa , onde a moradia das camadas de menor renda estão cada vez mais próximas, e mesmo mais inseridas nos espaços “nobres”. Mas certas alterações pontuais da legislação no plano original levaram a densificação de determinadas parcelas da Barra (notadamente no início da Av. das Américas agora já conhecido como a “Copacabana” da Barra da Tijuca, com torres muito próximas, e no entorno do Barra Shopping), e em áreas adjacentes aos limites do Plano como na área do Autódromo, estão começando um processo de diferenciação interna que merece ser observado. Neste contexto pode-se apontar para uma área que indo do entorno do Shopping Rio Design até as proximidades do cruzamento da Av. das Américas com a Av. Salvador Allende como aquela que estaria configurando-se como parcela mais “nobre” da chamada expansão “nobre” no Rio de Janeiro. Os sinais que apontam para esta configuração “mais nobre” combinam tanto sua destinação a mais alta faixa de renda, com a tipologia dos empreendimentos e um novo patamar de modificação do modo de vida e sua mais evidente separação com os pobres. A par da evidência oferecida pelo preço a ser pago para instalar-se nesse pedaço ser o mais elevado da Barra, os empreendimentos propostos alavancam para um novo patamar o conceito de “mini-cidade”. Os novos empreendimentos estão buscando internalizar tudo o que oferece-se a camada de maior renda que estava separada da moradia, seja na dimensão do lazer e atividades esportivas e ligadas ao “anti-stress”, seja agora até na dimensão de equipamentos coletivos. Incorporam-se idéiasconceitos- serviços como o “club-residência” com Spa (“In é não ter de ir ao Spa. É tê-lo em casa”, de anúncio publicado em “O Globo” 07/10/2006) ofurô, academias de ginástica, saunas ...ligadas ao corpo; e cinema, sala de dança, cave de vinhos... ligados ao lazer; e agora equipamentos coletivos como escolas (“Acesso a pé para a The British School a futura Escola Americana”, anuncio em “O Globo” em 07/10/06). Certamente não vai demorar para proporem hospitais no interior  dos condomínios, como já se faz na Argentina. A tendência deverá ser a de solidificação da idéia de “mini-cidade” acelerando o processo de internalização em curso, não trivial, do modo de vida. A internalização, neste movo patamar, demarca uma diferenciação mais acentuada do grupo social de alta renda das demais, e introduz um modo de vida que deverá ir sendo avaliado na medida da vivência das gerações em lugares de onde pouco precisar-se-ia sair. Estes novos empreendimentos estão localizados numa parcela da Barra que possui barreiras naturais – as lagoas perto da praia e entre os empreendimentos . A área nos seus fundos – encontra-se longe da localização das favelas que crescem vertiginosamente em outros pontos; fazem face ou mesmo tem no seu interior áreas de preservação ambiental, possuem áreas verdes; trabalham o imaginário da segurança plena; da proximidade ao se misturar usos e atividades, etc...,etc...É muito mais do que nos oferecem os filmes que retratam os subúrbios das cidades dos Estados Unidos. Não se trata de uma “suburbanização” à americana, pois lá as funções de comércio e lazer estão separadas da moradia, mas algo mais requintado como se fora “à francesa”; uma vida “no stress”, com tudo ao alcance de uma caminhada por “jardins de Burle Marx”. Estaríamos pois deixando para trás o modelo racional-funcionalista e voltando-se cada vez mais para as Cidades-Jardim do modelo culturalista? Esta é uma discussão. O certo é que os sinais de uma configuração de uma diferenciação interna na área de expansão “nobre” do Rio de Janeiro esta em curso, criando-se uma área “mais nobre-que -a – nobre” na Barra da Tijuca.

 Mauro kleiman

 

 

 

  

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