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Chão Urbano

Chão Urbano ANO I Nº 07 Março 2001

01/03/2001

Integra:

ANO I Nº07 Março 2001

 Laboratório Redes de Infraestruturas e Organização Territorial - IPPUR/UFRJ  

Coordenação Mauro Kleiman  

Equipe: Leriane Romão, Sonia Wagner, Vanessa Pereira

 

Opinião

 

Bondes e estruturação urbana - Pela volta dos bondes no Rio como um projeto global para a cidade

 

A opção rodoviarista brasileira acelerou-se e torna-se hegemônica após a introdução da indústria automobilística na segunda metade dos anos 50 do Século XX. A extinção dos bondes veio no bojo da política privilegiadora dos automóveis particulares e ônibus e as cidades, entre elas o Rio de Janeiro, passam a andar sobre rodas. A rede de bondes da cidade era uma das mais extensas e abrangentes do mundo, atingindo e articulando todas as zonas e bairros, inclusive aqueles de habitação de camadas populares, e então (até os anos 60 do século XX) pouco densificados ( como por exemplo Campo Grande, Santa Cruz e Jacarepaguá ). Nesses subúrbios o bonde fazia a função de ligação do transporte por trens com o interior dos bairros. A supressão da rede de bondes desarticulou a estrutura intra-urbana do Rio, tornando estanques vasta áreas populares, contribuindo para elevar o grau de segregação sócio-espacial. Agora, quando observa-se tentativas de re-introduzir um tipo de veículo urbano movido à eletricidade no Rio,( “O Rio renasce na beira do cais” –O Globo 25/03/01) deve-se refletir sobre as propostas, inclusive relacionando-a com as com experiências que estão em curso em outros países. No Rio as propostas voltam-se para re-introduzir o bonde no centro da cidade, e apenas neste espaço. Em cidades européias o bonde está sendo recolocado naquelas de porte médio ligando o centro à áreas pouco densificadas (“L´urbanisme du tranway”- Urbanisme nov. dez.2000,nº 315). Re-introduzir o bonde no centro do Rio – área altamente densificada – sem pensá-lo num projeto como um todo, ou no interior de uma proposta intermodal de transportes, pode relegá-lo à função turística. O bonde é um meio excelente de ligação entre modalidades, não se trata de um transporte de massas. Reinserí-lo no centro não vai significar menos atração para esta área, podendo representar o inverso(seria mais um atrativo). Ao invés de leválo ao centro deveríamos pensar-se em reintroduzí-lo na Zona Oeste ( tanto a de camada de maior renda –Barra, Recreio e Jacarepaguá- como àquelas de menor renda – Campo Grande, Santa Cruz e Bangu) área carente de meios de transporte, nas “ mãos” hoje em dia de um oligopólio de empresas de ônibus que não cumprem seu papel social. Área de maior crescimento na cidade , por sua enorme extensão demográfica ainda tem índices de adensamento relativamente baixos em comparação com o do Centro, Zona Sul e Norte, com possíveis eixos de implantação de um veículo elétrico que siga e reordene os de rede viária. De outro lado, o bonde poderia servir de ligação entre as estações da linha 2 do metrô com o interior dos bairros suburbanos. Tanto em uma área como noutra, a introdução de um bonde moderno seria um instrumento estruturante e reorganizador de vastas áreas populares relegadas ao abandono. Já um projeto para a cidade como um todo permite articular as operações pontualizadas, marco da última administração municipal. Um projeto global de rede de bondes para o Rio, em especial para a Zona Oeste e Subúrbios, poderia dinamizar setores em declínio; reurbanizar zonas decadentes, e assim principalmente “ recozer” nossa unidade territorial.

Mauro Kleiman

 

Análise Conjuntural

 

Obras de saneamento da Barra da Tijuca Finalmente, começarão as obras de saneamento da Barra, Jacarepaguá e Recreio, apresentado pela Secretaria Municipal de Obras. A concessão está prevista inicialmente para 20 anos e determina ainda que 80% de todos os dejetos sejam tratados antes de enviados para o alto-mar. As obras têm prazo de 24 meses e serão executadas pelo consórcio Barra Nova- formado pela Carioca Engenharia e Norberto Odebrecht-, pela empresa OAS e pelo consórcio Ivaí, vencedoras do processo de licitação. De acordo com o Secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Luiz Henrique Lima, o projeto custará cerca de R$ 120 milhões, provenientes do Fundo Estadual de Conservação Ambiental(Fecam),confirmando o artigo publicado em Chão Urbano 04 (nov. 2000). O emissário submarino da Barra não corre o risco dos transtornos que atingiram o emissário de Ipanema. Diferente da estrutura da Zona Sul, será assentado no mar, eliminando a necessidade de sustentação por pilares e os problemas decorrentes das ações das correntes marítimas(Secretaria de Comunicação Social/ 19/02/01). A notícia de que a construção do emissário exigirá a montagem de um píer , semelhante ao de Ipanema na década de 70, está sendo comemorada pelos surfistas segundo estes as obras deverão melhorar a qualidade das ondas. Reafirmando a posição da Barra como ponto de encontro carioca (O Globo 12/03/01). Embora pareça estar resolvido, o problema ainda persiste. Infelizmente falta acordo político, ou melhor divulgação dos projetos (como o da Fundação Rio-Águas que atua na área do Recreio e Jacarepaguá). A população do restante da Zona Oeste mostra-se insatisfeita em vista do quadro atual. Por isso ainda retornamos a dizer que o Rio de Janeiro necessita de um programa geral de saneamento.

Vanessa Pereira

 

 

Habitação

   Favela:Fôlego de 7 gatos! A política habitacional das camadas populares

 

 As favelas não param de crescer, e novas comunidades aparecem. Fruto da desigual distribuição de renda no Brasil e de política estatal de repassar à população o custo de construção da moradia e da infra- estrutura a favela tem sido a política habitacional brasileira formulada e executada pelas camadas populares. A partir da segunda metade dos anos 90 do século XX o Estado reconhece (finalmente ) as favelas e sua proporção considerável nas cidades e tem procurado intervir na melhoria de algumas de suas condições. Entre as atividades do Redes Urbanas- Laboratório de Infra-Estrutura Urbana e Organização Territorial temos feito visitas a favelas de diferentes portes, com o objetivo de acompanhar a evolução das obras do Programa Favela- Bairro, e com o funcionamento das suas redes de infra-estrutura. Foram visitadas Fernão Cardim (Caju), Ladeira dos Funcionários / Parque São Sebastião (Caju), Jacarezinho, Praia da Rosa / Sapucaia e Parque Royal (Ilha do Governador). As que ainda se encontravam em obras estão com as mesmas paralisadas em sua maior parte, devido à recente mudança de governo. Pudemos observar que, durante e principalmente após o período de obras, se faz necessário um constante acompanhamento de cada comunidade, não só urbanisticamente, mas fundamentalmente através da conscientização para a conservação, e além disso, é importante o apoio através de atividades profissionalizantes, creches e postos de saúde, para haver um contínuo crescimento da qualidade de vida obtida com o Programa Favela-Bairro, e que a melhoria obtida com as obras permaneça e dê às favelas os mesmos serviços e infra-estrutura dos bairros formais, como é o objetivo estabelecido no Programa. O Governo federal também irá contribuir na melhoria das comunidades carentes, através de um programa que “vai destinar cerca de R$ 700 milhões para o combate ao crescimento de favelas nos grandes centros do país, principalmente no Rio de Janeiro. O programa prevê a entrega dos títulos de propriedade e ajuda a regularização dos serviços de água, luz e rede de esgotos. Os recursos dos programas sairão do Fundo de Combate à Pobreza.” (O Globo – Barra / 01-03-01) Estas medidas estão se tornando muito necessárias, pois o crescimento desordenado das favelas e o surgimento de novas já atinge quase todos os bairros do Rio, e começa a se irradiar pelas imediações, como a Região Serrana. “A preocupação com o crescimento da comunidade do Alemão, em Petrópolis, reflete um problema cada vez mais freqüente nos municípios da Região Serrana: a favelização. Autoridades e moradores das cidades e de distritos assistem a ocupação desenfreada e desordenada de morros, encostas e até mesmo vales que, em muitos casos, constituem áreas de preservação ambiental. (...) As favelas, muitas vezes, ganham espaço derrubando a Mata Atlântica, afetando o ecossistema. Teresópolis, município vizinho, também enfrenta o mesmo problema e suas conseqüências.” (JB / 17-12-00) A expansão da moradia favelada pode ser também observada no retorno à construção de barracos de madeira ( pode ser notado este tipo de construção ao longo da Linha Amarela no trecho de Del Castilho) ou partes de compensados. Denota-se assim um provável agravamento da situação de renda que leva as camadas populares para a tentativa desesperada de obter um teto, ainda que bastante precário.

Sonia Wagner

 

 

Falta de Saneamento e de saúde: Doenças endêmicas alarmam os centros urbanos

 

O grande avanço de doenças endêmicas nos grandes centros urbanos vem trazendo ,enorme preocupação, às Secretárias de Saúde de diversos municípios, pois desde o século 19, tais doenças continuam fazendo vítimas no país, mesmo aquelas que aparentemente parecem ter sido radicadas. Recentemente o foco da febre amarela (urbana) em Minas Gerais não foi uma ameaça isolada, pois doenças como malária, dengue continuam a ser disseminadas no Brasil . O virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcellos, chefe do Departamento de Arbovírus do Instituto Evandro Chagas, em Belém alerta que as doenças endêmicas não estarão sob controle enquanto não houver uma vigilância epidemiológica mais efetiva, no entanto um dos fatores que agravam o grande aparecimento destas, é a falta de saneamento básico, pois à medida que as cidades se expandem sem planejamento e ordenamento dos sistemas de tratamento de água, esgoto e mais a precariedade da coleta de lixo, dificultam a eliminação dos transmissores. ( JB/25-03-01). Nem as áreas mais nobres do Rio de Janeiro ficaram livres de contaminação, o exemplo disto é o condomínio Jardim Pernambuco, no Leblon que apresentou 39 focos de concentração do mosquito transmissor da dengue, tendo a confirmação de 19 focos contaminados. Moradores com insegurança não recebem os agentes de saúde o que facilita o aparecimento do transmissor. Já Nova Iguaçu foi a primeira cidade do estado do RJ a registrar o tipo da dengue do tipo 3, enquanto que em São Gonçalo existe uma preocupação da Secretária Municipal de Saúde por existir a possibilidade de uma agente de saúde ter sido infectada pelo Aedes egypti, e provocado a dengue hemorrágica (os exames laboratoriais irão identificar se realmente é um caso de dengue do tipo hemorrágica). Nem os centros urbanos da Inglaterra ficarão livres dos arbovírus, pois estima-se que em 2010 a malária volte , devido ao grande número de imigrantes. A doença portanto não escolhe classe social para instalar-se. Existe também toda uma preocupação com os diversos tipos de arbovírus encontrados na Amazônia que podem ser maléficos ao seres humanos, pois a migração de uma área para outra pode facilitar ainda mais o aparecimento destes nos grandes centros. Medidas para solucionar tais problemas, desde o agente transmissor ao contaminado, vem sendo realizada de maneira precária, no Brasil pois os hospitais públicos não Possuem equipamentos para diagnósticos rápidos e precisos, além da falta de infra-estrutura em nossos grandes centros urbanos. Para que as medidas obtivessem êxito seria necessário um estudo e planejamento das áreas a longo prazo, com um programa geral e universalizante de implantação de redes de água, esgoto e coleta permanente de lixo. (JB/28-03-01).

 Leriane Romão Soares

 

 

Lançamento

 

Brevemente será lançado em CD-Rom o livro “Construtores do Moderno Rio de Janeiro – Empresas na Construção das Redes de Infra-estrutura de Água, Esgoto e Viárias no Rio de Janeiro - 1ª Parte – Período 1938-65”, do Prof. Mauro Kleiman. 

 

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